Abrir Empresa Já tenho uma Empresa

Notícias

Parte do reajuste das aposentadorias pagas pelo INSS está sendo engolida pelo IR

Congelamento da tabela do imposto faz segurados perderem cerca de 20% do reajuste dos benefícios anunciado pelo governo

Parte do reajuste das aposentadorias e pensões pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) está sendo engolida pelo Imposto de Renda (IR), cuja tabela não é corrigida desde 2015. Desde o início de fevereiro, aposentados e pensionistas começaram a receber a correção de 10,16%, equivalente à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 2021, o que os deixou animados. Mas, ao conferirem os depósitos em conta-corrente, perceberam que parte do reajuste foi "comido" pelo IR.

Isso ocorreu porque, com a correção do valor dos benefícios, muitos segurados foram empurrados para faixas mais altas de tributação na tabela do IR. Foi o que aconteceu com o aposentado Lúcio Gonçalves. "O aumento no IR de dezembro de 2021 para janeiro de 2022, no meu contracheque, foi de 22,62%. No final, eu só recebi reajuste de 8,41% em vez dos 10,16%", disse.

O mesmo aconteceu com Márcio Santos, que também percebeu, ao olhar o comprovante de pagamento, que sua aposentadoria estava desfalcada. Ao fazer as contas para entender o que estava acontecendo, ele observou que o IR aumentou 52,43% de dezembro para janeiro — deixando, assim, o reajuste em 8,23%. Ou seja, ambos os aposentados tiveram um "confisco" de cerca de 20% do reajuste prometido, mesmo que a correção de 10,16% aplicada ao valor bruto dos benefícios tenha apenas reposto a perda causada pela inflação, sem representar aumento real.

Lúcio Gonçalves tem um motivo adicional de queixa, pois teria direito a isenção do IR. "Fui aposentado por invalidez, por sofrer de insuficiência cardíaca considerada grave", disse. A cardiopatia é uma das doenças listadas no artigo 6º da Lei 7.713/88 como condição para que os aposentados sejam dispensados de recolher o imposto.

Segundo Gonçalves, na perícia feita à época da concessão do benefício foram apresentados laudos médicos e exames para a aposentadoria ser liberada. Após atestada a gravidade da doença, a aposentadoria foi concedida em 22 de maio de 2019.

Em 1° de agosto de 2019, ele entrou com um requerimento para obter a isenção do IR a. "Em 17 de dezembro de 2020, o perito recusou o pedido, alegando que a doença — cardiopatia não se enquadra no dispositivo da Lei 7713/88 que trata das doenças que dão direito à isenção do IR", explicou. "Os exames apresentados na perícia, foram os mesmos enviados com a solicitação de isenção do IR", detalhou.

Os aposentados do INSS afirmam se sentir enganados pelo governo. O presidente Jair Bolsonaro havia prometido corrigir a tabela do IR e aumentar a faixa de isenção dos atuais R$ 1,9 mil para R$ 5 mil. Mas isso não aconteceu em quase quatro anos de mandato. De acordo com os cálculos da Unafisco Nacional, a associação dos auditores-fiscais da Receita, ao não corrigir a tabela do Imposto de Renda, o governo "confiscará" cerca de R$ 48 bilhões de trabalhadores e aposentados neste ano por meio da tributação de seus rendimentos.

A advogada Gabriela Sabino Pinho, especialista em direito previdenciário, explica que a tabela do IR é definida pela Receita Federal e aplicada por faixas de renda. Rendimentos até 1.903,98 são isentos do desconto de IR. Os valores acima desse vão se encaixando, quebrando a aposentadoria em vários pedaços. No fim, o somatório da tributação aplicada em cada faixa resulta na alíquota efetiva paga pelo contribuinte.

Arrecadação

Porém, como a tabela não é reajustada há anos, à medida que o valor do benefício ganha alguma aumento, a isenção passa a não existir para determinadas faixas de renda ou a tributação como um todo cresce. "Assim, o aumento real, o líquido que o aposentado e pensionista receberá no final, será inferior ao reajuste dos benefícios", afirmou.

A contadora Adriana R. Alcazar, sócia-diretora da Seteco Consultoria Contábil, reforça: "Confirma-se o efeito negativo da defasagem da tabela do Imposto de Renda. O congelamento da tabela afeta diretamente o bolso da população, pois a tributação não acompanha os reajustes do salário mínimo há seis anos", disse. Segundo ela, ano após ano aumentando a arrecadação, "o governo não demonstra interesse em atualizar as faixas de dedução e, se isso for feito, provavelmente, não haverá correção retroativa", comentou.

Procurada, a Receita Federal disse informações a respeito do Imposto de Renda 2022 serão divulgadas em coletiva de imprensa ainda a ser anunciada. Já o INSS não se pronunciou até o fechamento desta edição.